A linguagem da fecundidade

Blog do Padre Paulo Ricardo

O sexto e último ciclo de catequeses do Papa João Paulo II a respeito da Teologia do Corpo consiste na reflexão sobre a fecundidade do matrimônio.

A Encíclica Humanae Vitae sobre a regulação da natalidade, escrita pelo Papa Paulo VI e publicada em 1968, não foi bem acolhida, mesmo sendo um precioso dom de Deus. A mentalidade do mundo naquela época estava voltada para a contracepção, pois havia em andamento uma revolução sexual. A partir daquela revolução foram confrontadas duas visões da sexualidade: uma concebida pelo Criador e pelo direito natural, e outra que surge de uma invenção humana.

O Papa Paulo VI insistiu sobremaneira na união entre o caráter procriativo e o unitivo do ato sexual. Para ele, a abertura para a fecundidade é o que permite que a união entre o casal aconteça realmente, pois não há um rompimento com verdade do ato conjugal.

Na aula anterior, vimos que o corpo possui uma linguagem e a do ato é justamente a de querer entregar-se completamente: “Aimer c´est tout donner et se donner soi-même” (amar é tudo dar e dar-se a si mesmo), conforme ensinou Santa Terezinha do Menino Jesus. E não existe maior união entre um homem e uma mulher que a concepção de outro ser humano.

O Papa João Paulo II quando apresenta a sexualidade humana – embora esteja fundamentado na tradição filosófica da Igreja – lembra que a base da moral sexual católica é o direito natural e procura apresentar ao homem moderno as leis de maneira compreensível, ou seja, usando a abordagem personalista.

O amor ordenado tem como características a liberdade, a totalidade, a fecundidade e a fidelidade. Essas quatro propriedades são espelho do amor trinitário. E um casal que vive sua sexualidade movido pelo amor que é o Espírito Santo, não pensa sequer na possibilidade da contracepção artificial, pois sabe que isso implicaria em transformar o outro em objeto.

A lei básica do personalismo, como expresso na Gaudium et Spes, é que de todas as criaturas o ser humano é a única que Deus quis por si mesma. Para servi-Lo, para amá-Lo, sem dúvida, mas isso não os transformam em instrumentos, mas sim, em sujeitos de amor.

A verdadeira espiritualidade de um casal está voltada para o Amor, para uma aliança amorosa que não permite a instrumentalização de um ou de outro. Por isso, a continência deve fazer parte da vida sexual de um casal.

É saudável que um casal viva períodos sem sexo. No entanto, a mentalidade desagregadora e doente da sociedade moderna ensina que ficar sem sexo é uma verdadeira tragédia. Uma visão desordenada do ser humano, claro.

No contexto da verdadeira sexualidade, portanto, inserem-se os métodos naturais e, dentre eles, o mais conhecido: Método de Ovulação Billings (MOB). Diversos cientistas concluíram que o ciclo menstrual possui também uma linguagem: a da fecundidade. Por ela, é possível saber em quais dias do mês a mulher está aberta à vida. O Método, se bem estudado e obedecido, evita a gravidez com muito mais segurança que os métodos ilícitos.

Só existem dois métodos absolutamente seguros para que as crianças não nasçam: 1. aborto (100% seguro, embora seja um assassinato); 2. não ter relações sexuais (100% seguro). São extremos, pois a primeira é motivada por um egoísmo tão grande que leva a pessoa a cometer um grave crime, que é matar o próprio filho em seu ventre, e a segunda movida por um amor que faz com que a pessoa prefira o bem do outro à sua própria satisfação.

O Método Billings encontra-se no meio termo, pois permite relações sexuais e a vivência da paternidade e da maternidade responsáveis ao seguir períodos de continência, o que, ao final, promove o amor entre o casal.

A utilização do Método dentro do projeto espiritual e da antropologia cristã significa que o casal deveria encarar a possibilidade de filhos numerosos como uma grande bênção, pois esta é a visão de ordenada de família: numerosa.

Diante disso, a perspectiva correta, equilibrada, sadia e curada de sexualidade é quando o casal está unido um ao outro e à prole. E um bom exercício àqueles que ainda têm dificuldade e enxergam o outro como objeto sexual é imaginá-lo(a) como esposo(a) e rodeado(a) de filhos.

Colocar-se na posição de mãe ou de pai, portanto, ajuda a manter a castidade. A jovem pode imaginar-se mãe e tendo de dar exemplo para a filha; o jovem como pai sendo flagrado pelo filho adolescente praticando atos ilícitos em frente ao computador. O que se percebe, então, é que quando a família é inserida na sexualidade, as tentações tendem a serem superadas.

A grande intuição do Papa João Paulo II é a communio personarum, a Trindade como uma comunhão de pessoas que, então, reflete-se na família. A mútua entrega entre os esposos e entre os pais e os filhos é expressão de Deus. Por isso “homem e mulher os criou”.

O biógrafo de São João Paulo, George Weigel, afirmou que a Teologia do Corpo é uma bomba-relógio que a Igreja acionou e que está preparada para disparar no século XXI. É preciso, então, educar os filhos para aproveitar esse grande dom de Deus para a Igreja, pois, enquanto o mundo cria uma revolução sexual, ela quer a revolução do amor. A comunhão de pessoas. A doação.

A Teologia do Corpo mostra que se há uma sexualidade, ela deve ser vivida com espiritualidade, pois não existe a diabólica divisão entre corpo e alma. A Igreja lembra que Deus se fez carne, por isso o corpo entrou pela porta da frente da teologia, da espiritualidade do amor.

  1. São João Paulo II, Teologia do Corpo – O amor humano no plano divino, Editora Ecclesiae, 2014

 

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